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Abril Azul: benefícios da medicina canabinoide no combate à sintomas do TEA

Azul é a cor de abril. Estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), a Campanha de Conscientização Sobre o Autismo – que este ano tem como tema “Mais Informação, Menos preconceito” – tem como objetivo difundir informações sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, assim, reduzir a discriminação e o preconceito que cercam os pacientes afetados por esta condição clínica.

O autismo pode ser identificado ainda nos primeiros anos de vida, embora o diagnóstico de um profissional seja dado apenas entre os 4 e 5 anos de idade. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, o TEA é um transtorno de desenvolvimento neurológico, caracterizado pela dificuldade de comunicação e/ou interação social.

O Autismo pode se manifestar em diferentes níveis e, muitas vezes, essa neurodiversidade pode vir acompanhada de outras condições, como epilepsia, depressão, ansiedade e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.

Com o avanço da medicina canabinoide, vários estudos estão sendo realizados sobre o uso de canabinoides para tratar esses sintomas e oferecer mais qualidade de vida aos pacientes.

A Cannabis contém numerosos compostos quimicamente ativos como o Δ9-THC, CBD e terpenoides. O Δ9-THC ativa o sistema endocanabinoide no sistema nervoso central, afetando o apetite, a ansiedade, a função cognitiva e a memória. Em contraste, o CBD é ansiolítico, anti-inflamatório, antiemético e antipsicótico.

No estudo Oral cannabidiol use in children with autism spectrum disorder to treat related symptoms and co-morbidities, pesquisadores registraram a experiência de pais que administraram, sob supervisão, CBD em seus filhos com TEA.

53 pacientes foram incluídos no estudo, com duração mediana de 66 dias de acompanhamento.

Os resultados observados foram:

Das 38 crianças com sintomas de hiperatividade, 68,4% tiveram melhora dos sintomas

De 34 notificações de automutilação e ataques de raiva, 67,6% relataram melhora dos sintomas

De 21 pacientes com problemas de sono, 71,4% melhoraram

De 17 pacientes com sintomas de ansiedade, 47,1% apresentaram melhora dos sintomas

A mudança geral nos sintomas de comorbidades do TEA foi examinada em 51 de 53 pacientes. Uma melhora geral foi relatada em 74,5%.

Com base em dados relatados pelos pais, houve melhora geral nos quatro sintomas relacionados ao TEA: hiperatividade, comportamento autolesivo, problemas de sono e  ansiedade. 

Cannabis no TEA
O estudo “Real life Experience of Medical Cannabis Treatment in Autism: Analysis of Safety and Efcacy”, realizado em 2018 pela equipe do químico Raphael Mechoulam, considerado o pai da medicina canabinoide, teve como objetivo caracterizar a epidemiologia de pacientes com TEA recebendo tratamento com Cannabis medicinal e descrever sua segurança e eficácia. 

Foram analisados os dados coletados prospectivamente como parte do programa de tratamento de 188 pacientes com TEA tratados com Cannabis Medicinal entre 2015 e 2017. O tratamento na maioria dos pacientes foi baseado em óleo de Cannabis contendo 30% de CBD e 1,5% de THC. 

Durante o estudo, inventário de sintomas, avaliação global do paciente e efeitos colaterais em 6 meses foram avaliados por questionários estruturados. 

Os resultados observados após seis meses de tratamento foram: 

  • 82,4% dos pacientes (155) estavam em tratamento ativo e 60,0% (93) foram avaliados
  • 28 pacientes (30,1%) relataram melhora significativa
  • 50 (53,7%) relataram melhora moderada
  • 6 (6,4%) relataram melhora leve 
  • 8 (8,6%) não tiveram alteração em seu quadro. 
  • 23 pacientes (25,2%) apresentaram pelo menos um efeito colateral; a mais comum foi a inquietação (6,6%). 

O estudo conclui que a Cannabis em pacientes com TEA parece ser uma opção bem tolerada, segura e eficaz para aliviar os sintomas associados ao Transtorno.

Mecanismos de ação
Ainda segundo dados do estudo de Raphael Mechoulam, o mecanismo exato dos efeitos da Cannabis em pacientes com TEA ainda não está totalmente elucidado. Contudo, achados de modelos animais de TEA indicam uma possível desregulação dos comportamentos de sinalização do Sistema Endocanabinoide (SEC). 


De acordo com os pesquisadores, portanto, o mecanismo de ação do efeito da Cannabis no TEA possivelmente envolve a regulação da transmissão do GABA e do glutamato. O TEA é caracterizado por um desequilíbrio de excitação e inibição da sinalização GABAérgica e glutamatérgica em diferentes estruturas cerebrais e o SEC está envolvido na modulação da transmissão GABAérgica e glutamatérgica. 

O estudo ressalta ainda que outro mecanismo de ação pode ser por meio da ocitocina e da vasopressina, neurotransmissores que atuam como importantes moduladores de comportamentos sociais. A administração de oxitocina em pacientes com TEA demonstrou facilitar o processamento de informações sociais, melhorar o reconhecimento emocional, fortalecer as interações sociais, reduzir comportamentos repetitivos e aumentar o olhar. Verificou-se que o Canabidiol aumenta a liberação de oxitocina e vasopressina durante atividades que envolvem interação social. 

Dois ingredientes ativos principais da Cannabis (THC e CBD) podem ter diferentes mecanismos de ação psicoativa. O THC demonstrou anteriormente melhorar os sintomas característicos de pacientes com TEA. Por exemplo, os pacientes relataram menor frequência de ansiedade, angústia e depressão após a administração de THC, bem como melhora do humor e melhor qualidade de vida em geral. 

Em pacientes que sofrem de ansiedade, o THC levou a níveis de ansiedade melhorados em comparação com o placebo e em pacientes com demência, levou à redução da atividade motora noturna, violência comportamental e gravidade dos distúrbios comportamentais. Além disso, foi demonstrado que a Cannabis melhora a comunicação interpessoal e diminui os sentimentos hostis em pequenos grupos sociais.

No estudo, os pesquisadores também mostram que um tratamento enriquecido com CBD para pacientes com TEA pode potencialmente levar a uma melhora dos sintomas comportamentais. 

Os achados são consistentes com outros dois estudos cruzados, duplo-cegos e controlados por placebo, que demonstram as propriedades ansiolíticas do CBD em pacientes com transtorno de ansiedade. Em um deles, o CBD teve um efeito significativo no aumento da atividade cerebral no córtex cingulado posterior direito, que se acredita estar envolvido no processamento de informações emocionais. No outro, o teste simulado de falar em público foi avaliado em 24 pacientes com problemas sociais. transtorno de ansiedade. 

Como resultado, o grupo tratado com CBD teve escores de ansiedade significativamente mais baixos do que o grupo placebo durante a fala simulada, indicando redução na ansiedade, comprometimento cognitivo e fatores de desconforto.

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Referências
Barchel, D., Stolar, O., De-Haan, T., Ziv-Baran, T., Saban, N., Fuchs, D. O., … & Berkovitch, M. (2019). Oral cannabidiol use in children with autism spectrum disorder to treat related symptoms and co-morbidities. Frontiers in pharmacology, 9, 1521.

Bar-Lev Schleider, L., Mechoulam, R., Saban, N., Meiri, G., & Novack, V. (2019). Real life experience of medical cannabis treatment in autism: analysis of safety and efficacy. Scientific reports, 9(1), 1-7.

 

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