Mais de 80% das brasileiras relatam sentir algum tipo de dor com frequência. Entre os homens, o índice é de 18%. Os dados – que integram uma pesquisa realizada pelo Ibope durante a pandemia de covid-19 – retratam uma realidade que tem sido observada há muito tempo pela comunidade científica: as mulheres sentem mais dor do que os homens.
Pesquisas indicam que a diferença entre os gêneros pode ser explicada por fatores sociais, culturais, anatômicos e biológicos.
Neste cenário, a Cannabis medicinal tem sido apontada como uma aliada no combate à dores e patologias que atingem o sexo feminino.
De acordo com a médica ortomolecular Dra. Janaína Barbosa, os efeitos moduladores, neuroprotetores, analgésicos, ansiolíticos e anti-inflamatórios dos canabinoides podem auxiliar no tratamento de condições clínicas como a endometriose, câncer de mama, câncer cervical, cólicas, dor e inflamação, combate ao estresse, entre outras.
Na masterclass “Saúde da Mulher: otimizando o organismo e o sistema endocanabinoide”, a especialista apresenta estudos científicos que buscam elucidar o mecanismo de ação dos canabinoides no organismo feminino. A aula está disponível na Trilha de Aprendizagem Contínua desenvolvida pela Tegra Pharma para médicos e dentistas.
Formada em Medicina, pós-graduada em Medicina Estética pela Fundação Técnico Educacional Souza Marques e em Bioquímica Médica Aplicada à Prática Ortomolecular pela FAPESP, Dra. Janaína é uma das precursoras no uso do Cannabis medicinal no país.
Transtorno alimentar
Na masterclass, a médica ressalta que, além de sentirem mais dores, as mulheres também são as mais afetadas por transtornos alimentares, outra condição clínica que pode ser combatida com o uso de canabinoides.
“Nestes casos, o sistema endocanabinoide ajuda a regular a homeostase. Ele tanto vai aumentar o apetite de uma pessoa que está com anorexia nervosa, quanto vai diminuir a compulsão alimentar de alguém que esteja compulsivo. Como? Ajudando a dopamina a se manter mais estável na fenda sináptica. Isso faz com que a gente tenha um sistema de recompensa melhor, diminuindo essa compulsão alimentar”, afirma.
De acordo com o estudo “The role of the endocannabinoid system in eating disorders: pharmacological implications”, o SEC desempenha um importante papel na homeostase corporal, pois está localizado em pontos-chave envolvidos na ingestão alimentar e no gasto energético, coordenando todos os atores envolvidos no balanço energético.
Por isso, passou a ser visto como um alvo interessante para o manejo de doenças caracterizadas por uma homeostase energética desequilibrada, como obesidade e distúrbios alimentares.
Doenças que causam dor
As mulheres também são mais propensas ao desenvolvimento de doenças que causam dor crônica, como a endometriose, fibromialgia e artrite.
Dados da OMS indicam que a fibromialgia afeta 4% da população. Deste total, quase 90% são mulheres.
Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, a artrite reumatóide atinge duas vezes mais mulheres do que os homens.
Cerca de 7 milhões de mulheres sofrem com endometriose no Brasil.
Pesquisa do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP mostrou que, durante a pandemia, as mulheres foram mais afetadas psicologicamente, apresentando 40,5% de sintomas de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,3% de estresse.
De acordo com Dra. Janaína, devido aos seus efeitos anti-inflamatórios e analgésicos, a Cannabis medicinal ajuda a combater as dores da fibromialgia e artrite, além de auxiliar na menopausa, na fase reprodutiva, no tratamento de câncer no ovário e também no combate à Síndrome do Ovário Policístico (SOP), uma doença endócrina frequentemente associada à resistência à insulina.
Segundo a médica, os canabinoides têm a capacidade de regular e sensibilizar os receptores de insulina, atuando como uma importante ferramenta na luta contra este tipo de quadro clínico.
Fibromialgia
No estudo “Ingestion of a THC-Rich Cannabis Oil in People with Fibromyalgia: A Randomized, Double-Blind, Placebo-Controlled Clinical Trial”, um ensaio clínico duplo-cego, randomizado e controlado por placebo foi conduzido por oito semanas para determinar o benefício de um óleo de cannabis rico em THC (24,44 mg/mL de THC e 0,51 mg/mL de canabidiol [CBD]) nos sintomas e na qualidade de vida de 17 mulheres com fibromialgia, moradoras de um bairro de baixo perfil socioeconômico e alto índice de violência na cidade de Florianópolis (SC).
Comparando as médias das pontuações do Questionário de Impacto da Fibromialgia (FIQ) pré e pós-intervenção em cada grupo, o grupo Cannabis apresentou uma redução estatisticamente significativa, passando de 75,5 para 30,5 pontos. Já no grupo placebo, a diminuição foi de 70 para 61.
Além disso, em uma análise isolada dos itens do FIQ, o grupo cannabis apresentou redução nas médias dos itens “sentir-se bem” (de 9,47 para 1,73), “dor” (de 8,25 para 3,75), “fadiga” (de 8 para 4) e rigidez (de 7,75 para 3,33).
Endometriose e o SEC
Dados do estudo “The Clinical Significance of Endocannabinoids in Endometriosis Pain Management”, indicam que as interações entre o SEC e os mecanismos associados à dor em pacientes com endometriose ocorrem em vários níveis: alterações no sistema neural central e periférico, envolvimento de dor neuropática e inflamatória, interação psicológica com a experiência da dor, variabilidade hormonal da dor e expressão de canabinoides receptores, enzimas e ligantes.
O manejo da dor para pacientes com endometriose precisa ser mais eficaz, direcionar o ambiente hormonal e imunológico, regular negativamente a proliferação enquanto aumenta a apoptose e normalizar os mecanismos invasivos e os processos de neuroangiogênese. De acordo com o estudo, a modulação do SEC parece ser uma boa estratégia terapêutica por combinar potencialmente todos esses fatores.
Pele
Os canabinoides também podem ajudar no combate à inflamações e infecções da pele, importante questão para mulheres de todas as idades.
Dra. Janaína ressalta que os receptores CB1 e CB2 estão presentes nas glândulas sebáceas, folículo piloso, glândula sudorípara e nas células imunológicas que permeiam a derme. “A interação dos fitocanabinoides com o SEC ajuda a balancear a cadeia esteroidal, e podem ser indicados – para uso tópico ou sistêmico – para o tratamento da acne, alopecias e androgenéticas”, diz.
O estudo “Cannabis sativa L. extract and cannabidiol inhibit in vitro mediators of skin inflammation and wound injury” investigou o potencial efeito de um extrato etanólico de Cannabis sativa L. padronizado em canabidiol como agente anti-inflamatório na pele, desvendando os mecanismos moleculares em queratinócitos e fibroblastos humanos.
O extrato inibiu a liberação de mediadores da inflamação envolvidos na cicatrização de feridas e processos inflamatórios. O modo de ação envolveu o comprometimento da via do fator nuclear kappa B (NF-κB), uma vez que o extrato neutralizou a transcrição induzida por NF-κB induzida pelo fator de necrose tumoral alfa em ambas as linhagens de células da pele.
Dados do estudo “Cannabinoids for the treatment of chronic pruritus: A review” apontam que o SEC desempenha um papel importante na homeostase da pele, além de efeitos mais amplos nas respostas neurogênicas, como prurido e nocicepção, inflamação e reações imunes.
Numerosos estudos de modelos in vitro e animais forneceram informações sobre os possíveis mecanismos de modulação canabinóide no prurido, com a maioria das evidências por trás da modulação neuronal de fibras periféricas de coceira e receptores canabinóides de ação central.
Além disso, estudos estudos clínicos demonstraram redução do prurido em várias doenças dermatológicas (dermatite atópica, psoríase, eczema esteatótico, prurigo nodular e dermatite alérgica de contato) e sistêmicas (prurido urêmico e prurido colestático).
Câncer
Ainda na masterclass, a médica apresenta estudos sobre a atuação dos canabinoides no combate de alguns tipos de cânceres como o de mama, colo de útero e de endométrio.
“Os dados indicam que os canabinoides têm potencial para o tratamento de câncer endometrial, particularmente para os que não responderam à terapias comuns, os casos refratários. Os estudos falam ainda no direcionamento seletivo para receptores amiloides, e mostram que eles também podem promover a apoptose das células doentes”, ressalta.
O estudo “(Endo)Cannabinoids and Gynaecological Cancers” ressalta que os principais elementos do SEC são expressos em tecidos reprodutivos femininos humanos, como os ovários, trompas de Falópio (oviduto), útero e placenta. Eles também foram localizados em áreas do hipotálamo responsáveis pela produção de hormônios, que atuam através do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal (HPG) para controlar um grande número de funções reprodutivas.
A pesquisa discute o papel do SEC em diferentes tipos de câncer como o de endométrio, colo de útero, ovário, cervical, trompas de falópio, entre outros. De acordo com o estudo, o desenvolvimento, progressão e o prognóstico das doenças do trato reprodutivo feminino parecem estar associados à sua desregulação, o que aponta um papel central do SEC em cânceres ginecológicos.
Devido às múltiplas funções reguladoras celulares e metabólicas, o sistema endocanabinoide representa, portanto, um importante alvo terapêutico para o tratamento destas doenças.
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Referências
Marco, Eva M., et al. “The role of the endocannabinoid system in eating disorders: pharmacological implications.” Behavioural pharmacology 23.5 and 6 (2012): 526-536.
Bouaziz, Jerome, et al. “The clinical significance of endocannabinoids in endometriosis pain management.” Cannabis and cannabinoid research 2.1 (2017): 72-80.
Chaves, Carolina, Paulo Cesar T. Bittencourt, and Andreia Pelegrini. “Ingestion of a THC-rich cannabis oil in people with fibromyalgia: a randomized, double-blind, placebo-controlled clinical trial.” Pain Medicine 21.10 (2020): 2212-2218.
Sangiovanni, Enrico, et al. “Cannabis sativa L. extract and cannabidiol inhibit in vitro mediators of skin inflammation and wound injury.” Phytotherapy Research 33.8 (2019): 2083-2093.
Avila, Christina, et al. “Cannabinoids for the treatment of chronic pruritus: a review.” Journal of the American Academy of Dermatology 82.5 (2020): 1205-1212.
Taylor, Anthony H., et al. “(Endo) cannabinoids and gynaecological cancers.” Cancers 13.1 (2020): 37.