Estudo indica medicamentos que podem interagir com a Cannabis e reforça o cuidado com a interação medicamentosa.
Os pesquisadores alertam para os efeitos mais graves, com destaque para 57 medicamentos que exigem dosagem mais rigorosa e podem ter efeito ampliado pela Cannabis. Confira aqui a lista.
Com epilepsia, o paciente usa valproato, que pode gerar problemas no fígado. Ou tem um problema cardíaco que o faz usar varfarina – o que pode levar a sangramentos ou até mesmo uma trombose.
Estes são somente dois dos medicamentos que podem trazer efeitos inesperados, se utilizados em conjunto com a Cannabis medicinal.
Ambos fazem parte de uma lista de 57 substâncias (ver abaixo), publicada por pesquisadores da Faculdade de Medicina Penn State.
O que diz a pesquisa sobre interação medicamentosa
Os autores do estudo foram: o professor e diretor de farmacologia Kent Vrana e o farmacêutico Paul Kocis, ambos da Faculdade de Medicina Penn State.
Eles explicam o foco dado em medicamentos com margem terapêutica estreita. Ou seja, aqueles prescritos em doses muito específicas, suficiente para serem efetivos; caso contrário, qualquer excesso pode causar danos.
É a chamada “margem terapêutica estreita”, muito importante ser observado quando da interação medicamentosa.
Lista de medicamentos para interação medicamentosa
Publicada no jornal científico Medical Cannabis and Cannabinoids, a lista visa auxiliar médicos a considerar os medicamentos prescritos e suas interações.
Para desenvolver o estudo, os pesquisadores avaliaram quatro medicamentos canabinoides. Suas bulas incluíam uma lista de enzimas que processam os ingredientes ativos dos medicamentos, como THC e CBD.
Eles compararam estas informações com as bulas de remédios comuns disponíveis em agências regulatórias como a U.S. Food and Drug Administration para identificar onde poderia haver sobreposição.
Os canabinoides são usados em diversos tratamentos como estimulação de apetite, epilepsia, controle de dor, náuseas e vômitos em pacientes tratando câncer, ansiedade, entre outros.
Em geral, os canabinoides são bem tolerados e seguros, mas é necessário cuidado ao administrar certas drogas ao mesmo tempo da Cannabis, principalmente para idosos e pessoas com doenças de rins e fígado.
Margem terapêutica estreita
Drogas variadas fazem parte da lista: remédios para o coração, antibióticos, antifúngicos, anticoagulantes. No caso da varfarina, é um medicamento que previne a formação de coágulos e é prescrita para pacientes com fibrilação atrial ou depois de substituição de válvula cardíaca e tem grande potencial de interação com canabinoides.
Por fazer parte da lista dos medicamentos com margem terapêutica estreita, qualquer alteração em seus efeitos pode causar sangramentos ou trombose. Como o CBD e o THC inibem a atividade das enzimas CYP, podem acarretar a diminuição dos efeitos da droga. O cuidado, portanto, deve ser tomado tanto por médicos prescritores de Cannabis, quanto por prescritores da varfarina.
Os pesquisadores avisam que a atenção não deve se restringir apenas ao uso medicinal da Cannabis. Também o uso adulto ou recreacional precisa ser levado em consideração.
Segundo Vrana, produtos não regulamentados frequentemente contém os mesmos ingredientes que os canabinoides medicinais, mas em diferentes concentrações. Por isso, o paciente deve ser honesto com a equipe médica que o atende, informando desde o uso adulto da maconha até medicamentos OTC (vendidos nas prateleiras sem necessidade de receita).
Como funciona a interação medicamentosa
Quando tomamos uma substância, o corpo a metaboliza, ou seja, faz a quebra dessa substância. O metabolismo dos remédios acontece por todo o corpo, mas mais comumente no trato digestivo e no fígado.
A família de enzimas P450 (CYP450) faz o trabalho de processar substâncias estranhas de forma que elas sejam eliminadas, mas alguns medicamentos afetam estas enzimas, acelerando ou desacelerando o metabolismo. Este processo pode alterar a absorção de medicamentos, daí a interação medicamentosa.
A família CYP450 é a responsável por metabolizar diversos canabinoides, inclusive o CBD. Mas, durante este processo, o canabidiol também interage com ela, que é responsável por metabolizar pelo menos 50% dos remédios prescritos.
Como o CBD pode estimular ou inibir a ação dessas enzimas, o remédio pode permanecer por mais tempo ou menos no corpo, trazendo efeitos indesejados. Por isso a importância em regular as doses dos outros remédios ao prescrever Cannabis medicinal.
Outros medicamentos
Além dos 57 medicamentos com margem terapêutica estreita, Vrana e Kocis também listaram outros 139 medicamentos que podem ter interações medicamentosas com a Cannabis. Eles planejam atualizar com frequência, sempre incluindo medicamentos recentemente aprovados e conforme novas evidências científicas forem surgindo.
Alguns dos medicamentos com interações mais conhecidas:
Clobazam
O CBD aumenta a ação e também os efeitos colaterais deste benzodiazepínico usado para tratar convulsões associadas à síndrome de Lennox-Gastaut em crianças e adultos. Mesmo assim, o CBD é aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) americana para tratar ataques epilépticos tanto de Lennox-Gastaut como para Dravet.
Quando as duas drogas são usadas juntas, o CBD aumenta a concentração do clobazam, chegando a triplicar sua concentração no metabolismo, aumentando não só seus efeitos, como a indesejada sedação. Por isso, médicos devem ser orientados a diminuir as doses do clobazam quando usado em conjunto com o CBD.
Valproato
Outra droga prescrita para tratar epilepsia e também transtorno bipolar e prevenir dores de cabeça. Tomar CBD com valproato pode aumentar os níveis enzimáticos no fígado e causar dano no órgão.
Em estudos clínicos descritos na bula do isolado fármaco Epidiolex, 21% dos pacientes com epilepsia que tomaram ambos tiveram níveis elevados de transaminase (enzimas intracelulares, que, em altas quantidades indicam destruição celular), chegando a três vezes o limite saudável.
Este número chega a 30% de casos quando havia também a prescrição do clobazam. Por isso, o próprio fabricante do Epidiolex recomenda a descontinuação ou ajuste de dose caso exames acusem alta de transaminase.
Lista de medicamentos do estudo
- acenocumarol (VKA)
- alfentanil
- aminofilina
- amiodarona
- amitriptilina
- anfotericina B
- argatroban
- busulfan
- carbamazepina
- clindamicina
- clomipramina
- clonidina
- clorindiona (VKA)
- ciclobenzaprina
- ciclosporina
- etexilato de dabigatrana
- desipramina
- dicumarol (VKA)
- digitoxina
- dihidroergotamina
- difenadiona (VKA)
- dofetilide
- dosulepina
- doxepina
- ergotamina
- esketamina
- etinilestradiol (contraceptivos orais)
- etossuximida
- biscoumacetato de etila (VKA)
- everolimus
- fentanil
- fluindiona (VKA)
- fosfenitoína
- imipramina
- levotiroxina
- lofepramina
- melitraceno
- meperidina
- mefenitoína
- ácido micofenólico
- nortriptilina
- paclitaxel
- fenobarbital
- fenprocumon (VKA)
- fenitoína
- pimozida
- propofol
- quinidina
- sirolimus
- tacrolimus
- temsirolimus
- teofilina
- tiopental
- tianeptina
- trimipramina
- ácido valpróico
- varfarina (VKA)
Estudos citados da interação medicamentosa nesta matéria
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